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Avanço da cadeia de valor da pluma de algodão com certificação orgânica em fio: uma experiência da agricultura familiar no Alto Sertão do Apodi


Nos próximos dias a pluma com certificação orgânica produzida pelas famílias agricultoras do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos vencerá mais uma etapa no cultivo da fibra: será transformada em fio.

A notícia é comemorada pelos agricultores e agricultoras da Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi (ACOPASA), um Organismo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC) à luz da legislação brasileira dos orgânicos, no Rio Grande do Norte, de onde sairá toda a produção de pluma a ser transformada em novelos de fio de algodão, possibilitando o avanço da comercialização do produto com melhor geração de renda, e ampliação ao mercado orgânico e comércio justo.

O processo será possível graças à parceria de cooperação técnica assinada entre a Diaconia e o Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecções da Paraíba, que realizará a fiação de um lote inicial de cerca de 5,5 toneladas de pluma com certificação orgânica. Quem também comemora a ação é a empresa francesa VEJA/VERT, que atua no mercado justo mundial e pretende comprar o fio industrializado das famílias agricultoras para utilizá-lo como matéria prima na produção de tênis.

O processo de fiação teve início com o envio de três fardos de pluma com certificação orgânica (equivalente a 268 quilos) para o SENAI Têxtil e Confecções da Paraíba. A pluma, resultante da safra 2020, foi oriunda das famílias associadas à ACOPASA, da comunidade Murici, município de Umarizal (RN), de modo a produzir os primeiros novelos com fio 12/1 para análise da ficha técnica do fio e segmento da fiação.

Quem acompanhou de perto a entrega dos primeiros fardos de pluma na fábrica de fios do SENAI foi Hesteólivia Shyrlley, técnica de Diaconia, que assessora as famílias participantes do projeto no território do Apodi (RN). Hesterólivia foi recepcionada pelo gerente de tecnologia do Instituto SENAI Têxtil e Confecção, Luis Sávio, e o instrutor educacional, Daniel Karlos, e destacou que “para as famílias assessoradas esta nova etapa de transformar a pluma em fio é muito importante e motivo de grande expectativa, pois muitas outras possibilidades poderão surgir, sem contar os valores agregados a isso, que são de âmbito financeiro/econômico, mas acima de tudo, de muitos outros bons sentimentos e esperança de que é possível viver da agricultura agroecológica, principalmente na cultura do algodão, que geralmente mexe na história de vida de muitas famílias. Isso gera um grande ânimo e vontade de trabalhar mais ainda na perspectiva do fortalecimento da agroecologia e das parcerias conquistadas ao longo da caminhada”.

A transformação da pluma em fio pelo SENAI trará diversos benefícios para as famílias agricultoras, consolidando a atuação dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) nos sete territórios participantes do projeto, agregando mais valor ao algodão e abrindo novas portas para a comercialização do produto. Consequentemente, a Agricultura Familiar no Semiárido nordestino também estará mais fortalecida. “É muito gratificante ver surgir os frutos desta parceria entre a Diaconia e o Senai Têxtil e Confecções na etapa de fiação do algodão agroecológico e saber que fazemos parte, como um dos atores estratégicos, dessa importante cadeia produtiva que prestigia desde o produtor rural da agricultura familiar até as mais renomadas “grifes” internacionais. É realmente um sonho para todos nós do SENAI Paraíba”, comemora Luis Sávio, responsável pelo filatório da instituição.

As famílias agricultoras também ressaltam a importância da parceria e vislumbram os frutos do trabalho. “Para nós da ACOPASA é muito importante mais esta etapa na produção do algodão em consórcios agroecológicos. Nós, como agricultores e agricultoras, estamos muito orgulhosos com este projeto tão importante para a agricultura familiar. Me sinto tão feliz em fazer parte deste grupo e de poder representar a ACOPASA mundo afora. Sou confiante que teremos um bom inverno neste ano de 2021 e, se Deus permitir, nossa produção será o dobro do ano passado. Mesmo em pandemia, esse trabalho está sendo feito com todos os cuidados necessários, e é no roçado onde a gente é feliz e lá podemos pensar nas nossas plantinhas e tentar esquecer tanta dor e tristeza das mortes”, diz Dona Antonieta de Souza, presidenta da ACOPASA.

A chegada do Instituto SENAI para esta nova fase do projeto reforça a perspectiva da ação coletiva que é uma das estratégias de trabalho da Diaconia. “Estamos muito felizes com o crescimento do projeto algodão, agregando parcerias muito importantes que fortalecem o trabalho desenvolvido em rede, envolvendo os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) e, principalmente, as famílias agricultoras”, justificou a Coordenadora Geral da Diaconia, Waneska Bonfim.

Para o coordenador do projeto, Fábio Santiago, “essa parceria é muito importante para o fortalecimento dos OPACs, porque a cadeia de valor está avançando e possibilitando a inserção em novos mercados. Com o SENAI Têxtil e Confecções será possível gerar mais ganhos para as famílias agricultoras e uma produção baseada em baixo carbono. Nosso esforço é apoiar um estudo de caso que possa registrar os passos para chegar até o fio pela ACOPASA, de modo a constituir os ganhos com esse avanço na cadeia de valor. Isso será estratégico, pois nos dará uma base concreta de avaliação e referência para os demais territórios de atuação do Projeto – Diaconia/FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e a parceria com o programa +Algodão, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), no Paraguai. É uma satisfação muito grande estar vivenciando este momento do projeto, com a aliança com o SENAI para fortalecer este modelo sustentável de desenvolvimento dos OPACs”.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com o FIDA/AKSSAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória) e organizações parceiras nos territórios de atuação do projeto. O projeto conta com o apoio técnico e financeiro da Laudes Foundation.

Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGS locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPACS e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, é a Caritas Diocesana de São Raimundo Nonato que desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.