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Contratos de compra e venda da Safra 2020 do projeto Algodão são assinados


Famílias agricultoras já podem comemorar a conquista pela venda antecipada garantida e o aumento de 5% no valor do quilo da pluma

Assinatura dos contratos reuniu representantes de todos os OPACS no Recife. Fotos: Acervo do Projeto

A safra 2020 do algodão que está sendo produzido nos sete territórios de atuação do projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos já conta com a intenção de compra e venda pelas empresas do comércio justo. As famílias agricultoras comemoraram a assinatura dos contratos firmados pelo segundo ano consecutivo com o aumento de 5% no valor do quilo da pluma, passando dos atuais R$ 12,57 para R$ 13,20 (pluma certificada). A novidade foi anunciada pela empresa compradora da pluma em seis dos sete territórios, a Vert Shoes, na manhã da última quinta-feira (13) durante a solenidade de renovação dos contratos, ocorrida no Recife. O território do Sertão do Pajeú (PE) tem acordo preestabelecido de venda da safra com a espanhola Organic Cotton Colours. Além das empresas compradoras, estiveram presentes na assinatura dos contratos representantes de todos os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACS), Embrapa Algodão, Universidade Federal de Sergipe (UFS), a instituição financiadora Laudes Foundation e os novos parceiros do projeto, o Programa Mundial de Alimentação (WFP) e o SENAI Indústria Têxtil e Confecções da Paraíba .

Empresa francesa Vert Shoes anunciou diversos incentivos para as famílias e OPACS

Além do aumento do quilo da pluma, a empresa francesa anunciou premiações em dinheiro para os OPACS e famílias agricultoras. Cada associação receberá R$ 2,50 por quilo de pluma produzido por cada agricultora e agricultor, um crescimento de 150% comparado com o valor praticado em 2019. A medida visa ajudar essas associações a fortalecerem o Fundo de Incentivo à Autonomia Financeira (FIAF), e consequentemente, os processos administrativos, jurídicos, aquisição de insumos, infraestrutura, equipamentos e o que mais for necessário. As famílias também serão contempladas com mais R$ 2,00 por cada quilo de pluma produzido, além do novo valor anunciado (R$ 13,20), mas se atenderem a alguns critérios estabelecidos no contrato como o preenchimento correto do caderno de campo. “Essa notícia foi maravilhosa para todos e todas nós. Com este incentivo iremos contar com mais empenho dos agricultores e agricultoras para receber, em tempo hábil, as informações vindas dos roçados, necessárias na hora de fecharmos nossas planilhas de rastreabilidade do algodão que enviamos para as empresas compradoras. Também ficamos muito felizes com o repasse dos lucros da Vert para o nosso fortalecimento enquanto associação certificadora”, comemorou Maria de Fátima Souza, da Associação dos Produtores e Produtoras Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI).  

François, à esquerda, premiando o agricultor Seu Nezinho (PI) com um tênis da marca francesa pelo bom desempenho na produção do agricultor.

François Morillion, um dos sócios fundadores da Vert Shoes, explicou a razão de tantas novidades. “A empresa está completando 15 anos e teve um momento muito bom nos últimos três. Voltamos a lucrar e resolvemos dividir os lucros com quem participa das nossas relações. Os primeiros a serem beneficiados nessa participação foram os produtores de algodão do projeto, assim como as associações. Elas precisam ser fortalecidas, uma vez que é através delas que toda a cadeia produtiva do algodão flui. Estamos muito felizes em poder garantir mais uma vez a compra desse algodão”.

Representantes das organizações parceiras do projeto

O segundo ano do projeto contará com a inclusão de novos parceiros. Um deles é o Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP). O centro é formado por meio de uma parceria com o Governo do Brasil para intercâmbio de experiências, desenvolvimento de capacidades e promoção da cooperação Sul-Sul com países da África. “Queremos nos instrumentalizar com a experiência do projeto do algodão agroecológico da Diaconia para criar um modelo e adaptá-lo aos países onde atuamos que são Moçambique, Tanzânia, Quênia e Benin, dentro da cooperação Sul-Sul. Percebemos que as famílias de lá enfrentam os mesmos desafios que as famílias do projeto na questão das condições socioeconômicas, climáticas, entre outras. Esperamos dessa cooperação criar uma solução comum”, disse o oficial de Projetos da WFP Brasil, Joelcio Carvalho, que atualmente está na gestão do projeto “Além do Algodão” da WFP.

O projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos deverá contar, em breve, com outro parceiro, o SENAI Indústria Têxtil e Confecções da Paraíba. No último dia 10 de fevereiro, a Diaconia visitou a unidade para conhecer as instalações do parque têxtil, indicando a possibilidade de transformar a pluma produzida pelas famílias em fio. As articulações já tiveram início e as organizações estão em processo de negociação.

Equipe do Projeto formada por OPACS, ONGS e organizações parceiras

Durante o primeiro ano do projeto, a safra de 2019 nos territórios atingiu números expressivos. Foram colhidas 32 toneladas de pluma, 50 toneladas de caroço, 95 mil quilos de feijão, 61 toneladas de milho e 8,5 toneladas de gergelim, culturas que compõem o consórcio juntamente com o algodão.

Para 2020, a estimativa é alcançar a marca das 70 toneladas somente de pluma, levando em consideração alguns pontos como a incorporação de novas famílias, condições mais favoráveis de clima – as chuvas já chegaram em todos os territórios -, amadurecimento dos conhecimentos obtidos nas Unidades de Aprendizagem Participativa (UAP), comissões de Certificações Participativas e Gênero – que em 2019 contou com a participação de 131 mulheres -, aliadas aos saberes populares. “Nessa nova fase do projeto iremos incluir novas metodologias como a criação de núcleos de grupos locais, a figura da agricultora e do agricultor multiplicador, inovar nas pesquisas em parceria com as organizações parceiras que já desenvolvem estudos no setor e concluir as sistematizações que já foram realizadas no primeiro ano do projeto. Estamos muito felizes como os novos passos que daremos daqui para a frente”, disse o coordenador geral do projeto pela Diaconia, Fábio Santiago. Felipe Jafim, coordenador do projeto pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), reforçou. “A assinatura dos novos contratos teve vários significados para as famílias agricultoras. A garantia da próxima safra, o aumento do valor do quilo da pluma a ser paga pela empresa e os incentivos que ela irá oferecer em virtude do lucro que ela teve nos últimos anos. Nós da UFS ficamos muito felizes em apoiar essa cadeia fazendo parte desse projeto e dessa nova perspectiva de produção de conhecimento e de vida mais digna para as famílias.

Para Nair Helena, pesquisadora da Embrapa Algodão, “a assinatura dos contratos, garantindo a compra de toda a produção do algodão nos territórios pelo segundo ano consecutivo, tem permitido fortalecer ainda mais as famílias agricultoras e as associações certificadoras. A Embrapa Algodão, enquanto parceira desse projeto, a partir da sua ação de formação e capacitação dessas famílias, percebe o quanto é importante promover a troca de conhecimentos, desde o planejamento até a comercialização, para que essas famílias consigam atingir a autonomia quando este projeto finalizar”.

Waneska Bonfim, coordenadora geral da Diaconia, finalizou o evento destacando o sucesso do projeto. “Tivemos dois dias de atividades intensas analisando o primeiro ano do projeto e olhando para as perspectivas de futuro. E vimos que ele só tende a crescer com essa gama de organizações parceiras de peso que atuam não só nos territórios, mas em todo país e em outros lugares do mundo. Mas tudo isso não aconteceria sem a força que está na outra ponta, ou seja, as famílias agricultoras e as associações, também conhecidas como OPACS. Nossa expectativa é de chegar ao final da próxima safra atingindo todas as metas que estabelecemos neste encontro”.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Embrapa Algodão e a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória). O projeto conta com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGS locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPACS e a produção agroecológica.

No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente.

No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.