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No Sertão do Cariri-PB, fio de algodão com certificação orgânica participativa será comercializado para o mercado orgânico e comércio justo com aumento no valor agregado


Famílias agricultoras ligadas à ACEPAC-PB vão ganhar em torno de R$2,66 a mais do valor que se paga pelo quilo da pluma do algodão orgânico. Além disso, a fibra e o fio passarão por análise de qualidade para implementação de sistema de qualidade e rastreabilidade da produção

Representantes de Diaconia, ONG Arribaçã, ACEPAC-PB, Veja/Vert e SENAI Têxtil-PB em visita à unidade têxtil paraibana – Outubro/2022

A fiação da pluma do algodão com certificação orgânica participativa, que já acontece em parceria com o SENAI Têxtil-PB há um ano, receberá aumento de quase 40% na quantidade em relação ao ano anterior. Isso porque a estimativa da safra de pluma para o ano de 2022 é de no mínimo 20.000kg, produzidos por agricultoras e agricultores da Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano (ACEPAC/PB) – Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC) que controla a conformidade orgânica em unidades familiares produtivas por meio do Sistema Participativo de Garantia (SPG) para geração do selo brasileiro orgânico.

O aumento da produção da pluma está relacionado ao bom regime de precipitação na região, correta aplicação do protocolo de regras e boas práticas do algodão e o compartilhamento de experiências entre agricultores e agricultoras. Para a agricultora e presidente da ACEPAC-PB Amanda Procópio, a soma da produtividade do campo com o avanço da fiação pelo segundo ano consecutivo significa incremento de renda.

“A expectativa aqui para o SENAI-PB é sempre boa, porque a gente está tendo mais autonomia nos processos da nossa produção, que já é mais um produto do nosso roçado. E isso vai refletir na renda dos agricultores e agricultoras, levando um aumento na sua renda financeira para se gerar mais qualidade de vida”, afirma.

Agricultora e presidente da ACEPAC-PB, Amanda Procópio, em visita ao parque têxtil do Senai – PB
 

No ano anterior, a fiação correspondeu a 14,93 toneladas de pluma. Com esse avanço na cadeia de valor, cerca de 125 famílias agricultoras ligadas à ACEPAC-PB comercializam o fio orgânico diretamente para a marca franco-brasileira de calçados Veja/Vert. Neste ano, o preço da venda teve aumento de 15% em relação ao ano de 2021. Conforme explica Fábio Santiago, coordenador do Projeto Algodão/Diaconia, essa experiência servirá de referência para os outros 6 OPACs do Nordeste que o projeto apoia.

“Além do preço da pluma do algodão com certificação orgânica participativa que custa R$/kg 15,27 (sem ICMS), as famílias vão ganhar em torno de R$2,66 a mais do valor que se paga pelo quilo da pluma do algodão orgânico. Então, isso representa a geração de renda diretamente do campo, construindo vínculos sociais que possam fortalecer a organização social, e, com isso, possa incrementar novas inclusões de famílias, acessando mercados diretos e potencializando a geração de renda pela agricultura familiar no Semiárido brasileiro. Além disso, a venda do piolho irá fortalecer a capitalização ao Fundo de Incentivo à Autonomia Financeira (FIAF) da ACEPAC-PB”, explica.

Equipe do SENAI-PB, Diaconia e Veja/Vert em visita ao parque têxtil

O assessor técnico da ONG Arribaçã, Almir Freitas, que acompanha as famílias agricultoras no Sertão do Curimataú/Seridó paraibano e sertão do Cariri-PB, observa as potencialidades da geração de renda através dos roçados dos agricultores e agricultoras. Além da venda do fio do algodão, do piolho (resíduo da fiação do algodão) e do caroço, que serve para alimentação animal, também está em andamento a reforma do local que processará outros produtos dos consórcios com o algodão, como tahine, gergelim, pasta de amendoim e outros.

“A Arribaçã está muito feliz em participar desse momento da agregação de valor da produção dos agricultores e agricultoras da ACEPAC/PB. Com a produção do fio do algodão, com agregação de valor nas outras culturas do roçado, com a implantação da Unidade de Beneficiamento de Alimentos (UBA) no município de Monteiro-PB, e dos roçados dos agricultores e agricultoras. Na produção deles e delas, nada se perde”, explica.

Almir Freitas, assessor técnico da ONG Arribaçã, Amanda Procópio, presidente da ACEPAC-PB e Fábio Santiago, coordenador do Projeto Algodão/Diaconia

Análise de qualidade da fibra e do fio orgânico – Em reunião realizada no Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção de João Pessoa – PB, ficou clara a importância da aplicação de testes de qualidade da pluma do algodão para otimizar o processo de fiação e definir as características da fibra para sistematização de um banco de dados. Participaram da ocasião representantes da equipe de Diaconia, da ACEPAC-PB, da marca Veja/Vert do setor de engenharia, contabilidade e técnicos de campo, assim como assessoria técnica da ONG Arribaçã.

Representantes de Diaconia, ONG Arribaçã, ACEPAC-PB, Veja/Vert e SENAI Têxtil-PB em reunião na unidade têxtil paraibana – Outubro/2022

De acordo com o engenheiro Têxtil da Veja/Vert, Edenilso Stela, a análise da qualidade da pluma do algodão é feita no equipamento HVI (High Volume Instrument), e será fundamental para que seja correlacionada com a qualidade da fiação, de modo que se possa otimizar a obtenção de um fio de melhor qualidade, bem como a possibilidade de produção de novos tipos de fios para maior valor agregado às famílias agricultoras.

“Com os dados das características da fibra é possível obter um fio com menos imperfeições e geração de menor quantidade de resíduos. A nossa intenção é criar um banco de dados para avaliarmos quais fatores mais influenciam na qualidade do algodão produzido pelo agricultor e agricultora, por exemplo: tipo de solo, clima, quantidade de chuva, tipo de semente que foi utilizada, entre outras. Além de implementarmos um sistema de rastreabilidade para que possamos mensurar a qualidade de cada região produtora da Paraíba, agregando mais valor ao algodão agroecológico”, explica.

Equipe do SENAI-PB, Diaconia e Veja/Vert em visita ao parque têxtil

Segundo o gerente do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção de João Pessoa-PB, Edilson Andrade, a análise também fornecerá um comparativo entre o algodão cultivado em bases agroecológicas e o algodão convencional, que trabalha com a adubação química.  “Vamos analisar na fibra o comprimento, a resistência, finura, uniformidade de fibra, brilho, cor. Já no fio, vamos analisar as partes finas e grossas, que são consideradas as imperfeições e alteram a aparência do tecido, e ver também a resistência, alongamento do fio, que dá toda condição do molde, desenrolamento para a produção ou tecelagem, que é o caso do uso dos produtos da Veja/Vert, ou, no caso de malharia, quando o destino é o fio de malha”, afirma.

Já de acordo com a Analista de Suprimentos da Veja/Vert, Jéssica Hahn, a expectativa é de que a qualidade do fio orgânico já comprovada pela equipe da marca franco-brasileira, possa permanecer durante a transformação em tecido para fabricação dos tênis vendidos mundialmente.  “Viemos novamente aqui no SENAI-PB, após alguns meses, para dar um retorno sobre a qualidade do fio, que tivemos uma produção em fevereiro desse ano, que a qualidade foi excelente. Tivemos ótimos resultados nos tecidos e nos tênis. Então nós viemos conversar sobre essa nova etapa de uma nova quantidade de pluma, que vai ser enviada para o SENAI-PB, para fazer uma nova produção de fio. E o que nós esperamos dessa nova produção é com certeza o mesmo sucesso que tivemos na anterior”, afirma.

O início da fiação da pluma do algodão da safra/2022 orgânico está prevista para janeiro de 2023. Até dezembro deste ano, a pluma será encaminhada ao Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção de João Pessoa-PB. A expectativa é que o final da fiação aconteça em marco de 2023. No total, contabilizando os custos da fiação e do transporte, o valor agregado para a ACEPAC/PB é de R$ 53.149,45.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation, da Inter-American Foundation (IAF) e do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE. O Projeto ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, e com o Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/Governo do Paraguai/IBA. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó da Paraíba. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e CHAPADA assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.