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Projeto algodão realiza encontro com foco na criação de associações certificadoras


Alto Sertão Alagoano e o Alto Sertão Sergipano são os únicos dos sete territórios do projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos que ainda estão em processo de constituição de OPAC’s

De São Raimundo Nonato/PI

Encontro aconteceu no município de São Raimundo Nonato, no Piauí. Fotos — Acervo Diaconia

Instituir uma associação para certificar as culturas produzidas pelas famílias agricultoras que compõem o projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos nos estados de Alagoas e Sergipe. Este foi o principal objetivo do intercâmbio ocorrido entre os dias 16 e 19 de julho no município de São Raimundo Nonato (PI), reunindo agricultoras, agricultores, representantes de algumas instituições parceiras do projeto como a Universidade Federal de Sergipe (UFS), Cáritas Diocesana e Diaconia.

Essas associações são conhecidas, também, como Organismos Participativos de Avaliação de Conformidade (OPAC’s). São eles os responsáveis pela certificação de toda a produção consorciada das famílias agricultoras, ou seja, do algodão, feijão, milho, gergelim, sorgo, amendoim, entre outras. O Alto Sertão Alagoano e o Alto Sertão Sergipano são os únicos dos sete territórios do projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos que ainda estão em processo de constituição de OPAC’s. O grupo se reuniu no auditório da Cáritas de São Raimundo Nonato para aprender todo o processo de implementação de uma entidade certificadora. A escolha pelo território da Serra da Capivara para a realização do intercâmbio se deu porque no local funciona a primeira entidade no Nordeste a ser credenciada pelo Ministério da Agricultura habilitada a conferir a certificação participativa no estado: a Associação dos Produtores e Produtoras Agroecológicos e Agroecológicas do Semiárido Piauiense, a APASPI.

Participantes do intercâmbio atentas às explicações

O jovem agricultor Gean Bastos foi um dos representantes da APASPI que participou do intercâmbio. Para ele, a escolha da associação para repassar os trâmites de constituição de um OPAC foi um privilégio. “Nossa associação foi fundada em 2012. Foram muitas vivências até chegarmos ao patamar de entidade certificadora participativa habilitada pelo Ministério da Agricultura. Isso nos tornou referência para outros organismos que nos procuram assim como esses agricultores e agricultoras de Alagoas e Sergipe. Fazemos parte do projeto do algodão em consórcios agroecológicos, que é o fio que nos une. Por isso, estamos muito felizes com esta troca de experiências”, disse.

Ter sua produção cultivada e extraída em harmonia com a natureza, com o meio ambiente, com a sociedade e ainda garantir uma boa renda através de um produto certificado é o desejo da agricultora Maria de Lourdes Barreto, do município de Delmiro Gouveia, Alto Sertão de Alagoas. Ela faz parte do grupo local Terra do Sol, um condomínio rural de cinco famílias. A agricultora iniciou o plantio do algodão há dois meses e deverá colher o ouro branco em 120 dias. “Tenho como meta trabalhar a produção orgânica. A certificação será muito importante para garantir que nossos produtos sejam inseridos e mais valorizados no mercado consumidor. Estar aqui neste intercâmbio é se apropriar de vários processos daquilo que temos como meta produzir. Entender o processo no miudinho é importante”. Para a assessora territorial do projeto em Alagoas, Ana Cristina Accioly, “aprender novamente todo o processo com quem já pratica isso há algum tempo é fundamental para nós por dois motivos. O primeiro, aprender o roçado consorciado dentro do conceito da Agroecologia. Depois, o processo da certificação orgânica participativa que nós nunca vivenciamos no nosso estado”.

Assim como em Alagoas, o grupo que veio de Sergipe também se mostrou muito animado para aprender a constituir o OPAC no território. A jovem agricultora Iva de Jesus Santos, integrante do Movimento de Pequenos Agricultores, em Canindé do São Francisco, passou a plantar algodão há pouco tempo. O forte da produção agroecológica do movimento sempre esteve nas sementes crioulas. “Aceitamos o desafio de plantar algodão para aumentar nossa renda, mas isso só será viável com a certificação do produto. Estamos animadas e animados, principalmente com o que estamos aprendendo aqui no intercâmbio”.

Grupo visitou a propriedade do agricultor Seu Neguinho, na Lagoa dos Prazeres

O intercâmbio foi construído com atividades de formação, ocorridas nas dependências da Cáritas Diocesana e de visitas a campo. Essas visitas serviram para mostrar os consórcios em várias propriedades. Uma delas foi a do agricultor Salvador Ferreira dos Santos, conhecido com Neguinho, da comunidade de Lagoa das Cascas, São Raimundo Nonato. O grupo conheceu toda a área produtiva, as técnicas utilizadas para o manejo do solo, a prevenção de pragas, o plantio e a colheita que ele e a esposa executam há vários anos. Toda a produção e propriedade do Seu Nezinho é certificada pela APASPI.

UFS — A Universidade Federal de Sergipe (UFS), uma das parceiras do projeto, também esteve presente no intercâmbio representada pelo coordenador do projeto pela universidade, professor Felipe Jalfim e pelo coordenador do curso de Agroindústria, professor Maycon Reis. Dentro do projeto, caberá a instituição de ensino estudar meios para agregar valor às culturas no tocante ao processamento dos produtos do consórcio (feijão, milho e gergelim). A universidade também está envolvida na formação do OPAC no estado de Sergipe. “Temos a clareza que o OPAC vai ser um instrumento muito importante para o desenvolvimento da agricultura familiar no território porque vai ser um espaço de organização das famílias e de produção mais sustentável. O trabalho do organismo irá reforçar a diversificação produtiva. A universidade está cumprindo seu papel na formação de futuros profissionais que esses organismos precisam. Estamos formando jovens que estão no projeto, alunos do campus Sertão. Todo esse processo está integrado à Diaconia e às demais organizações”, disse Jalfim. A universidade já está desenvolvendo um estudo com o auxílio do departamento de Agroindústria que entra no processo para ampliar o leque de diversificação do beneficiamento dos produtos do consórcio. “O opac não pode ficar limitado ao algodão, mas ao milho, ao feijão, gergelim e às demais culturas. Nesse sentido, se faz necessário o processamento desses produtos. É aí onde entram as técnicas desenvolvidas pela Agroindústria por meio de uma unidade beneficiadora para dar suporte. A universidade está construindo a ideia baseada em pesquisas de observação e quantitativas de mercado. A intenção é que até o final do projeto a primeira unidade já esteja funcionando no território sergipano”, explicou o professor Maycon Reis.

Os grupos concluíram o intercâmbio construindo uma agenda de atividades relacionadas à criação dos OPAC’s como ata de fundação, regimento interno, estatuto, manual de procedimentos operacionais, entre outras atividades.

O Projeto — É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Embrapa Algodão e a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão — Nossa Senhora da Glória). O projeto conta com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONG’s locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPAC’s e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONG’s Caatinga e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.